O casamento na visão espírita
Para os Espíritas, não é novidade ser a reencarnação um dos princípios básicos e mais importantes da sua Doutrina; que a sua finalidade é a de proporcionar aos Espíritos perfeição, progredindo sempre, para aproximar-se de Deus, conforme aprendemos em O Livro dos Espíritos, na questão 132.
Nas questões 231 e 258, aprendemos também que, quando desencarnados e ainda vinculados à Terra, são eles chamados de errantes e que, nesse estado, entreveem o que lhes falta para serem felizes. É por isso que buscam os meios de atingirem o objetivo almejado, escolhendo, eles mesmos, o gênero de provas que desejam sofrer. Nisso consistem os seus livres-arbítrios. Quando lhes falta experiência para escolher, Deus supre as suas inexperiências, por intermédio da colaboração dos bons Espíritos, Seus mensageiros.
São, em tese, esses os ensinamentos dos Espíritos superiores sobre a importância da volta do Espírito à Terra, através das reencarnações sucessivas. São ensinamentos que nenhum Espírita pode ignorar e deve entendê-los, nos seus meandros, para que possa assumir sua parte de responsabilidade nos atos praticados, em sua vida terrena, na busca de sua transformação interior, para melhorar sempre.
Sendo o casamento uma das provas mais importantes na vida de todos e, perante os conhecimentos trazidos pela doutrina Espírita, somos levados a uma cogitação séria sobre o casamento na ótica espírita. O objetivo é posicionar os interessados sobre a responsabilidade de cada um, considerando a liberdade da mulher; a quase liberação do sexo; o uso do anticoncepcional tornou-se prática fácil e moderna e a dissolução do casamento, muitas vezes, é causada pelo simples desejo de inovação.
Martins Peralva, de saudosa memória, estudioso do Espiritismo e bom entendedor dos ensinamentos constantes da obra de Kardec, em feliz abordagem sobre o tema Espiritismo no Lar, constante do livro de sua autoria, Estudando a Mediunidade, sugere a seguinte classificação dos casamentos:
“Acidentais: Encontro de almas inferiorizadas, por efeito de atração momentânea, sem qualquer ascendente espiritual.
“Provacionais: Reencontro de almas, para reajustes necessários para a evolução de ambos.
“Sacrificiais: Reencontro de alma iluminada com alma inferiorizada, com objetivo de redimi-la;
“Afins: Reencontro de corações amigos, para consolidação de afetos.
“Transcendentes: Almas engrandecidas no Bem e que se buscam para realizações imortais.”
Tomando-se por base essa classificação, podemos deduzir que os acidentais, quando duas pessoas se unem, sem qualquer ascendente espiritual, onde funcionou apenas o livre-arbítrio, na busca do sexo oposto, apenas para satisfação instintiva, tem início ali um vínculo de comprometimento para o futuro, em próximas existências, uma vez que ninguém tem o direito de lesar sentimentos alheios, sem que lhe seja imputada a devida culpa.
Nos casamentos Provacionais, em que duas almas se encontram em processo de reajustamento, necessário ao crescimento espiritual, esses que são a grande maioria na Terra, o ensinamento trazido pelo Espiritismo faz luz para nos alertar sobre a sua finalidade.
Essas uniões demonstram, de forma palpável, que não existem encontros afetivos, sem raízes profundas nos princípios cármicos, onde as nossas responsabilidades são esposadas em comum. Quando, ainda no mundo espiritual, programou-se, por moto-próprio, o remédio, embora amargo, que precisa ser ingerido para o restabelecimento da saúde espiritual, isto é, o acerto de contas reclamado por ambas as partes.
No livro de sua autoria, Fé, Paz e Amor, página 92, Emmanuel, o sábio amigo do médium Chico Xavier, ensina: “Se encontrastes em casa, o campo de batalha, em que sentes compelido a graves indenizações do pretérito, não te detenhas na dúvida! Suporta os conflitos à própria redenção, com valor moral do soldado que carrega o fardo da própria responsabilidade, enquanto se desenvolver a guerra a que foi trazido. Não te esqueças de que o lar é o espelho, onde o mundo contempla o teu perfil e, por isso mesmo, intrépidas e tranquilas nos compromissos esposados, saibamos enobrecê-los e santificá-los.”
Pensemos nisto: se contraímos dívida nos estabelecimentos bancários ou comerciais e, se não pagarmos no vencimento, o nosso nome será encaminhado ao Serasa ou SPC e ficamos com o nome “sujo”, sem direito a novos créditos. Para reaver o crédito e limpar o nome, é necessário pagar a dívida.
O mesmo acontece com o Espírito encarnado, na vigência do casamento. Praticando erros em prejuízo do outro cônjuge, fica sem crédito espiritual e só o reaverá, quando conseguir resgatá-lo, atendendo Jesus, quando afirmou: “reconcilia-te com o adversário enquanto em caminho com ele”.
Fica claro que os Espíritas, que conhecem tudo isso, no seu interesse próprio, devem ver, no casamento provacional, a oportunidade bendita que nos é dada por Deus para o nosso entendimento pacífico com os nossos supostos adversários, por nós mesmos lesados, em outros tempos, e, agora, podermos nos entender, retirando da consciência o peso difícil de ser carregado.
A separação consiste no não cumprimento da programação anterior que se adia para outra encarnação. Pode ser comparada com a Nota Promissória que, vencida, poderá ser prorrogada, mas, com o ônus do acréscimo dos juros, multas e correções.
Sendo assim, verificamos que não é compensadora a separação, uma vez que demonstra falta de inteligência e de bom senso.
Para tanto, torna-se necessário que cada um dos cônjuges compreenda a importância de sua participação empenhada no êxito resolutivo nas divergências. Assumindo, com boa vontade e compreensão, a parte que lhes compete, receberão, necessariamente, uma solução positiva. Isso é de Lei.
É importante olhar para dentro de si, com valor e humildade, admitindo a necessidade de modificar alguma coisa, talvez, o comportamento com o outro cônjuge, perdoando-o, tratando-o com afetividade, com indulgência, usando da caridade que enaltece e ensina a amar.
Se não fizer mudanças necessárias e continuar com o mesmo procedimento anterior, permanecerá sofrendo aquilo que já sofria, isto é, as dificuldades de relacionamento familiar, em prejuízo dos próprios filhos. Não agindo assim, estará, sem dúvida, transferindo para encarnação futura a solução daquilo que pode resolver desde já.
A separação, portanto, torna-se necessária em casos extremos, quando a irracionalidade de um ou de ambos os cônjuges não propiciar ambiente para entendimentos; quando a convivência, ao invés de pacificar, cria maiores divergências, complicando, ainda mais, as dificuldades para o bom relacionamento; quando as agressões podem causar prática de crimes ou por adultério. Todavia, mais cedo ou mais tarde, as partes se encontrarão para os devidos reparos, pois, nas Leis de Deus, só a prática do AMOR nos fará felizes.
A visão espírita sobre o casamento, cogitada, estudada e divulgada tem o objetivo de ser útil, especialmente a quem tem conhecimento dos ensinamentos do Espiritismo e da finalidade da encarnação na Terra.
Trata-se de estudo sério, com a finalidade de colaborar, sem puritanismo. Ninguém de nós está imune de provas e expiações. Todos somos portadores de muitos problemas que se relacionam, muitos deles, com o tema deste estudo, sem nenhuma pretensão de fazer doutrinação, pois o dever de fraternidade determina que sejamos amigos solidários, nas alegrias e nas tristezas.
fonte: http://www.oclarim.org/site/_pages/ler.php?idartigo=1524
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